Arquivo do blog

Páginas

Pesquisar este blog

terça-feira, 8 de setembro de 2015

COMO ESQUECER ALGUÉM…


Éramos felizes. Éramos muito felizes… nos primeiros anos, como em qualquer relação. É claro que eu, como qualquer outra mulher, acreditava que era para sempre, que seria ele o pai dos meus filhos e que eu formaria com ele uma daquelas famílias que via passearem de mãos dadas na rua. Parva? Não, sonhadora e apaixonada, isso sim. Nada me faria duvidar que tudo aquilo seria possível. O que tinha eu, afinal, a menos que todas aquelas mulheres felizes? Na altura não sabia, mas hoje sei que o que me faltava era precisamente um homem, ao meu lado, que sonhasse o mesmo que eu, que quisesse o mesmo que eu, e que amasse tanto quanto eu.
Com o tempo as mensagens de boa noite começaram a ficar mais curtas, as palavras de amor mais contidas, as discussões aconteciam por tudo e por nada, as desculpas acumulavam-se e a paciência esgotava-se mais depressa do que nunca. Chegava já com pressa de ir embora, já não me agarrava quando me tentava ir embora. Já não ia atrás de mim quando eu realmente me ia embora. E agora, visto de longe, parece até que vejo tudo melhor, os beijos rápidos que me dava e os olhares que já não se cruzavam. Dizia que me amava muito, mas a verdade é que não me queria para sempre. Amava-me muito, mas não tinha tempo para mim. Amava-me muito, mas não confiava em mim. Amava-me muito, mas quando precisava dele, não estava. Amava-me muito, dizia ele, mas guardava muitos segredos. Amava-me muito, mas magoava-me na mesma. Ele não me amava sequer, quanto mais… muito. É triste, foi triste, e não demorou muito até me dizer a palavra que nós, os que amam, nunca esqueceremos na vida: acabou.
Não estava pronta, penso que nunca se está para uma coisa destas, a minha personalidade sonhadora fazia-me sempre acreditar que íamos dar a volta, que melhores dias viriam e que eu realmente e finalmente iria sentir-me como uma daquelas mulheres felizes que eu, sem querer, invejava do outro lado da rua. Uma esperança que na hora de ouvir essa palavra, a última, só ajudou a cravá-la com mais força no meu coração e na minha memória. Doeu, dói e há de sempre doer, quanto mais não seja sempre que me lembrar.
Acabava de perder o chão, tudo o que havia sonhado ficava sem efeito, tudo o que sentia por ele era agora como uma faca que me cortava por dentro. Tudo o que eu mais queria alimentar, momentos antes, era tudo o que eu mais queria longe de mim naquele momento. Queria morrer. Sim, queria morrer. Aliás, já morria por dentro, era uma questão de acelerar o processo. Mas parei, parei de alucinar, de exagerar, parei mesmo e respirei fundo. Comecei a olhar à minha volta e a pensar em quantas pessoas já não passaram pelo mesmo e superaram. Seria eu menos do que elas para não o conseguir também? Claro que não! Tudo teria que terminar como começou: aos poucos.
Não tinha de o esquecer, como me pedia a minha alma com todas as forças, tinha sim de o ir esquecendo. Esse era o segredo. Não era nessa semana, nem sequer nesse mês, mas havia de ser. Afastando-me aos poucos dele, afastando-me aos poucos de tudo o que me fazia lembrar dele. Fui eliminando tudo gradualmente da minha vista, e gradualmente, também, foi-se desvanecendo da memória e da alma. Aos poucos, com calma. Não podia haver pressa, mas tinha de haver esforço. Não podia ignorar a dor, mas abraçá-la, aceitá-la e depois então superá-la. Tive de perceber que merecia uma nova oportunidade de ser feliz. Perceber que nem tudo é para sempre. Perceber que não há forma mais natural de curar uma dor do que com o tempo. Perceber que não era a primeira que passava por aquilo. Perceber, aceitar e superar. Três simples palavras. Não é fácil, ninguém disse que era, nem tem de ser.
Agora que sinto ter superado tudo isto, olho-me com mais confiança, hoje sinto-me mais preparada, mais mulher. Não tenho hoje mais medo de relações, não tenho mais ódio pelos homens nem pela vida, não sinto que deixei de acreditar no amor, nem vou poupar no amor só porque algum dia alguém desperdiçou o meu. Não podemos querer voltar para quem não nos espera, nem chorar o fim do que já não era. As pessoas entram e saem da nossa vida e só nós ficamos, por vezes nem nós, e é isto que nos falta. Na realidade não precisamos da outra pessoa, mas sim do que de nós foi com ela. Mas há uma coisa da qual não nos podemos esquecer: nós ainda existimos. E se alguém não quis mais o nosso amor, haverá alguém, certamente, disposto a tudo para o conseguir. Este fim não é a morte, mas uma oportunidade de nascer de novo.